sábado, 26 de agosto de 2017

Eu e o Diabo

Estava no inferno, literalmente, na minha frente sentava um homem, elegante, vestido inteiro de preto e com um sapato vermelho, usava um terno bonito, de alguma maneira eu sabia que era o Diabo em pessoa, finalmente havia acabado a existência na terra, ele me olhava com aura sinistra e um sorriso de canto de boca, falou que ganhei um julgamento especial, falo que eu tinha uma chance de me desculpar. Me desculpar por que? Pelas injustiças do mundo que devem prover dá mal capacidade administrativa de Deus? Pelos erros que cometi e passei a vida inteira remoendo nos sonhos mórbidos. Pelos amores que enterrei por não saber de nada direito? Pela miséria logo ao lado? Você que devia se desculpar, por deixar que as pessoas vivam em um lugar assim. Ha, isso foi ideia de Deus, dá menos pra trabalho pra gente, menos gente aqui, menos gente lá, a gente roda umas personalidades de vez em quando.
Eu Mereço uma suíte nesse lugar pra poder passar a eternidade sem me desculpar. Ele sorriu, falou que eu podia ficar o tempo que quisesse,, acesso ao plano de saúde do próprio capeta, uma eternidade vazia, sem muito o que fazer. Deixou claro que quando estava de mau humor ligava o som do inferno no talo com um grave estourado e que eu ia me arrepender de não levar isso como um castigo severo. Olhei pra ele e falei que perto da terra aquilo era o paraíso, ele abriu um sorriso completo, perto do paraíso de todos os arrependidos aqui também não é nada mal, escute o som que quiser ninguém vai falar nada, com tanto que use os fones, todos tem seus quartos, ninguém dorme ao relento, a alimentação é sem graça, mas quando estou de bom humor eu mesmo cozinho algo especial, o clima é meio quente, deus ficou de arrumar o ar condicionado, aquele cara, ficou de fazer tanta coisa! Por hora é isso. Tenha uma estadia boa, é sempre um prazer revê-lo quando quiser voltar pra terra, de um toque, gostei de ti, te encaixo em qualquer tempo, você não lembra mas da última vez ficou uma cara aqui, contente em saber que uma vidinha não te mudou muito. Até a próxima, meu número já ta salvo no fone do quarto, lembre-se de usar camisinha. Agora vai logo.

sexta-feira, 3 de março de 2017

cinzento.

Eu acordo e é só noticia triste, sangue nos jornais e fome pro nosso povo. Os governantes enriquecendo e a gente de mãos atadas. A obra ao lado não me deixa dormir, marteladas, picaretas e o cinza cada vez mais alto. Em dias assim a gente não se sente confortável, todos os dias são assim se não tem pra onde correr. La no fundo, de algum local escuto um baixo sorriso, a esperança de que alguma alegria existe na cidade, como é duro se agarrar nisso em dias sem abraços. Penso que bom seria se fosse sempre primavera, se sua flor estivesse sempre em meu quintal, se o mundo fosse enfim um lugar realmente ideal. Pois ja que não é, esperança é o que há, de um humor melhor pra nós em dias que a gente nem sabe se virão. Espero não deixar pra depois, ainda assim estou parado.

sábado, 7 de janeiro de 2017

Incoerente

Como sempre incoerente, consumindo toda a paranoia social e tentando de alguma maneira ser feliz. Sempre preso as convenções e vícios, deixando pouco e fazendo menos ainda. A vontade se transforma em preguiça em duas palavras. O Riso que disfarça a tristeza de não ser o que se quer. Só outro produto deste mundo infeliz, tudo é desigual. Trago atrás de trago, cigarro atrás de cigarro, tentando descobrir um propósito universal, fazer parte deste flow com mais naturalidade, sempre mentindo e fingindo não ver que tudo é errado. Os beijos e abraços são o único alento, corpos sem roupas no nascer do sol, breve alegria sincera e ainda incerta.
Ainda espero encontrar razão, desprender-me desta rede de escolhas estranhas, desisto de ser um erro. Desisto.