sábado, 27 de junho de 2015

Extinto.

Acordou por outro dia, sabia que devia persistir, que devia lutar, que quem sabe exista alguém de mesma espécie e descobrisse que não estava sozinho. Os predadores bípedes tinham dominado tudo, pareciam estar em todos os lugares, o verde estava cada vez menos presente, mesmo suas presas pareciam estar condenadas. Lembrava das histórias de seu avô, que ele dizia ser passada há muitos anos, de que nem sempre aquele bípedes desalmados dominaram o mundo que conhecemos, antes disso, felinos, parentes distantes caçavam e eram considerados os donos do mundo. Por questão de ciclos e nobreza deixaram que os primeiros seres frágeis a andar sobre duas patas continuassem a viver. O coração grande de uns levou esse mundo a ruína dizia o velho. Agora já tem tempos que o senhor tinha partido, caçadores com seus tubos que disparam luzes o atingiram. Seguia sempre que possível para o leste, tentando encontrar alguma fêmea, mas no fundo sentia que era o último. Em algum daqueles dias ele teria de se entregar, ou aos predadores ou ao tempo. De fato já não era jovem, bem pelo contrario, ainda possuía agilidade, mas aquilo não ia durar muito, o tempo passa muito rápido. O último dos seus, magro, caminhou sozinho por uma zona árida, sentiu sede e não encontrou água, lembra que quando jovem passou por aqueles lugares e haviam arvores, como tudo pode mudar desta maneira. A respiração acelerada durou pouco, a boca seca, se entregou, deixou que o deus gato o levasse para longe deste mundo decaído.

Eric Laffitte Gaidus

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Cruzamento

Meus passos marcam seu asfalto todos os dias. É incrível a intimidade que nos temos nesses dias repetidos. Conheço todos teus semáforos e até outros viajantes que passam por ti todo os dias. Caminhos que se cruzam em ti. Você que conhece o Eu de agora, que sente no meu caminhar a alegria e a tristeza de cada dia. É pena que em breve mudarei meus caminhos, e aí você será apenas uma lembrança, depois de um tempo, se o acaso me levar a ti será apenas estranho, toda nossa construção já vai ter ruído. Afirmo isso, pois em tempos passados, não era ti mas outro cruzamento que me tinha no mesmo horário. Na rotina incansável ele me acompanhou por muito. Hoje nem lembro onde é. Espero que não fique desapontado e não levante o meio fio para que eu tropece amanhã, espero que leve tudo numa boa. A vida é sempre uma despedida.

Eric Laffitte Gaidus

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Descobertas

Ela tinha uma alma liberta e vagava caminhos novos diariamente. Quando escurecia, buscava dentro de si uma luz maior que a de uma estrela e continuava os caminhos com ar de descoberta. Não tinha medo de escuro, não tinha medo da solidão, o que lhe apavorava eram possíveis prisões que seu coração criava e a falta de ar para continuar caminhando.
Já crescida havia aprendido que os maiores monstros não habitam armários, nem livros de histórias horripilantes; eles moravam dentro da gente e era uma luta diária mantê-los quietos dentro de nós.
De tanto medo de prisões, um dia enquanto vagava tropeçou nele e a luz dele juntou-se com a dela e a ela pode ver que o caminho iluminado por dois era mais bonito. Não prendeu-se, pois isso sufocaria o recém nascido sentimento, porém, permitiu companhia para sua alma liberta para descobrir os novos caminhos.

Danieli Buzzacaro

Arquivo morto.

O trauma da manhã que será carregado por todos os próximos amanheceres. Escondido no sorriso amarelo e nas conversas de cada boteco. Você sabe que tanto te afetam estes arquivos guardados no vazio do peito. Mas mente que não existem e por fim até acredita ter deixado tudo no vento. E é quando as brumas chegam e o inverno toca que as gavetas abrem em sonhos infernais e te convidam pra uma valsa pobre onde você nem sequer é protagonista. Ao lado da pintura principal pensando ser tão importante, mero detalhe expressado por um artista sem alma, qual é o apelo? Cheio de choques e falsas histórias pra contar, pensando amar ou ser amado, simples mentira, jogada pelo medo de nem sequer ser real. Estou desaparecendo, abraço o precipício, finalmente tenho calma, fecho porta por porta e encontro meu novo corredor. Ainda existo? Até certo ponto .


Eric Laffitte Gaidus

terça-feira, 23 de junho de 2015

Dos primeiros delírios.

O vento uivando frio sussurrando palavras mórbidas. Os amores jovens estilhaçados no centro da cidade, entre trancos e arrancos tiro de ti outro amargor. Carrego em mim todo desespero da sobriedade. O mundo enterra suas garras em meu peito nu, sinto em meu sangue o seu sabor, a parte que faltava, completo outro quebra cabeça, pena que o antes também em mim exacerba função de medo. Não estou entregue a nada. Giro meu mundo ao avesso, rodo feito pião e saio nessa roleta russa existencial, pra qualquer lado que garanta sua garganta sangrando versos que desgracem meu coração. Qualquer canto basta nessa canção que se arrasta em prosa cansada. Um corte calado e a vida me acaba antes do próximo bonde.

Eric Laffitte Gaidus