Eu ando chorando um pouco todos os dias! Pelas mentiras que o povo acredita, pelos sonhos que já nem reconheço. Por ser um garoto mimado e assustado neste mundo enorme e estranho. Eu tenho conseguido coisas boas. Eu tenho uma relação que amo. Eu tenho conseguido levantar da cama de manhã. Mas no geral eu passo os dias em desespero. Esta moeda de troca que inventaram me consome o pensamento. Este pedaço de papel maldito que sempre me falta. Queria te levar pra jantar, queria te levar para lua, queria ir pra bem longe deste lugar. Restam lagrimas dispersas, sonhos caídos e a falta de emprego. Resto um pouco ainda. Quero mais. Quero que exploda tudo.

Bloqueado

A parede é enorme
Incomensurável e intransponível.
Quebra as palavras e a vontade.
E segue o silêncio, velho amigo,
sempre presente em meu vazio.
Queria ser um toque completo
um sussurro em seu ouvido
que arrepie até o último pelo.

No momento sou ideia
que bate na parede
e deixa de existir.

Eu tento estar presente
colar os pés ao chão
sentir a realidade do mundo
sem tremer de raiva e medo.
Mas não me sinto pronto
sempre chego atrasado
estão acabando com tudo
e nem em versos eu encontro.

Não consigo estar aqui
sinto a morte em silêncio
temperada no tempo aflito
dos sonhos apagados,
estou só em ilusões
onde foi parar a vontade?

Eu vejo gente justificando tudo no divino. Minha raiva aumenta a cada dia, a culpa é sua, minha, nossa. Falhamos como sociedade, falhamos como relação, falhamos como nós mesmos. Ninguém vai perdoar nada nesta terra. Esta todo mundo cego, esta todo mundo preso em suas próprias mesquinharias. Salvar o mundo, salvar a si, salvar o planeta, salvar a porra do universo. Salvem-me de mim mesmo. Consumo tudo o que não gosto, música, arte, trabalho e você. Sou um parafuso solto pedindo pra cair, que esta engrenagem se despedace. Sou deserto,  uma ilha incerta em meio a um temporal de informações.  Não quero fazer parte de nada disso. Faço parte de tudo. Infernizo todos em meu canto fosco, enraízo meus pés em uma dança tosca, sou a parte ruim que restou de alguém.
As vezes sonho com um passado sonhador que claramente não passa de uma ilusão, justifico-me por não saber de nada. Por não ser nada. Melhor assim, nunca vou ser grande. Neste mundo pequeno não vejo espaço pra mim. Vou cair fora antes do carnaval, dar um cheque-mate e deixar tudo pra sempre! O sol bate em minha cama, outra noite sem dormir, sem foder, sem escrever nada que preste. Já perdi a vez.

Todo dia a mesma vida, voltando do trabalho o ônibus lotado com seu suor-condicionado super bom para os dias de verão. Sempre esquecem os fones de ouvido em casa e a guerra dos celulares mega modernos começa no fundão. Uma moça xinga um velho tarado, uma outra diz ser roubada, um jovem tira o lugar de um idoso e finalmente chega o seu ponto. E aí você pensa em tudo pra fazer, o mundo , a cerveja, o futebol e essas coisas. Mas só consegue comer e dormir. E no outro dia tudo outra vez, até que vem o fim de semana, e teu patrão te liga cobrando e nem no domingo você descansa, e aí já é segunda, sua rotina nunca morre, você sim.

Texto de 2014
As rotinas mudaram e você continua morrendo.

Eu não quero felicidades passadas
recordações mortas e retalhos
não aceito que a vida seja só isso
que o que eu faço defina o que sou,
Eu não vou ficar em cima do muro outra vez
nem calar pra não fazer você sofrer.
Eu aceito todo o erro que eu me tornei
e farei sorrindo minha existência torta.
Não julgo mais como me ensinaram
estou aberto a todas as experiências.
Me levem daqui antes que seja tarde
meu corpo clama por novidade.

Minha cabeça dói o corpo grita e você não esta ao lado. O mundo gira as pessoas trabalham e eu sem um centavo. Tentando descobrir o motivo de não estar contente. Vejo sofrimento em tanta gente, cúmplices de um mundo injusto, de tanta desigualdade. Ser feliz aqui é uma mentira, um desejo alcançado apenas pelos egoístas. Os nossos índios estão sendo mortos, os sonhos de um lugar melhor também. E eu só tentando descobrir o que fazer. Lutar com quem? Este sol me da uma breve esperança. Eu quero o desvencilho de tudo que fui. Não quero mais nada pela metade.

hey man!

Outro role? Eu nem lembro disso! Estava alucinado caminhando naquela rua, as luzes, garotas, vendas de drogas, tudo parecia irreal. Eu era parte de algo maior, sorria pra todos, todo mundo me amava. Eu acordei em um quartinho sujo bem longe do centro. Sei lá como cheguei aqui. Meu dinheiro ainda esta no bolso, não gastei nada. Fico abismado com a capacidade de azucrinar e nem notar. Quando saí do quarto um velho me deu bom dia, eu sorri, que simpático, se fosse eu me mandava tomar no cu. Vai dormir no seu quarto delinquentinho de bosta. Bom dia!! Isto aí é café? Me sentei na mesa a xícara foi colocada, do quarto saiu um casal de amigos, pelo menos era um terreno conhecido. Ela me diz que viu que já conheci o seu pai e pergunta se estou bem! Estou ótimo porra. Pleno. Meu brother ri e diz que eu fiquei muito louco ontem, que troquei a garota por um banheiro apertado, que se não fosse eles ia ficar gorfado na calçada. Observo-me, estou nojento. Marcas de vômito em minha camiseta. Onde está meu casaco? Será que perdi? Abro um sorriso ainda maior, azucrinei ontem e estou inteiro hoje, tomando café com um velho sem ele me aborrecer. Que doideira. Que dia é hoje? Sexta feira? Oh boy, preciso ir pra casa.
O ônibus acelerado, os motoristas sempre atrasados nesta cidade. Pisando fundo e cortando os carros num transito insano. Chego em casa, minha velha não vai ser legal comigo, está certo ela. Ser legal com um marginalzinho tosco. A casa esta vazia graças ao bom deus. Acendo um cigarro, abro a geladeira e pego todas as sobras que encontro, esquento um prato no micro-ondas, um bom banho, os dentes escovados, o espírito elevado as 16 horas, tempo de partir. Deixo um bilhete, passei por aqui, volto outra hora! Saio com a promessa de sempre, uma berinha tranquila, um papo sossegado e voltar cedo! HA que piada. Saio porque preciso fugir, porque odeio a sociedade mesquinha do dia a dia, porque preciso encontrar a loucura em alguma esquina! Porque quero todas as moças da cidade rolando na minha cama antes do fim do dia.  Porque sou só mais um humano triste em busca de algum sentido tosco pra sua existência nula.